A Rainha Marta

Semanas antes deste dia oito de março, onde é celebrado o Dia Internacional da Mulher, as administradoras do blog Mulheres em Campo pautaram uma série de entrevistas e matérias sobre as poderosas que representam, e muito, o sexo feminino quando o assunto é futebol. E tive a honra de ser escolhida para fazer um perfil da nossa maravilhosa Marta, a melhor jogadora de futebol feminino de todos os tempos.

E sobre as conquistas desta talentosa mulher, a grande maioria sabe. No entanto, muitos desconhecem a sua batalha para chegar ao topo e alcançar o reconhecimento mundial através de seu futebol maravilhoso. E essa luta começou bem cedo, quando a menina Marta Vieira da Silva, nascida no dia 19 de fevereiro de 1986, teve que aprender  lidar com todo o preconceito dos moradores de uma cidade chamada Dois Riachos, no interior de Alagoas.  

 

Marta aos 11 anos

Extraída da Internet

Isso porque começou a jogar bola com sete, oito anos e, aos poucos, percebeu que levava jeito para o esporte.

“Eu adorava brincar de bola na rua. As pessoas na época não viam com bons olhos uma menina jogando bola no meio de um monte de garotos, e a minha família pensava da mesma forma. Me chamavam de mulher macho. Falavam mal de mim”, recorda.

“Como a mãe dela deixa?” era a pergunta que todos faziam para a Dona Teresa, que defendia a filha de todos, inclusive de seus irmãos.

“Minha família sempre teve tradição no futebol. Tínhamos até um time. Acho que tudo isso foi traçando um sonho. Desde pequena queria ser uma atleta profissional. Mesmo assim, meus irmãos implicavam quando eu jogava, pois ficavam irritados com os comentários e queriam me defender. Se algum deles me visse num campinho, eu tinha que me correr para casa e me esconder atrás da mamãe para não apanhar”, conta a jogadora.

E ela saía escondida para jogar. Como era a única menina no time, precisava arrumar um banheiro ou um quartinho para se trocar. E só entrava no vestiário quando o treinador chamava. Só que isso nunca foi algo que pudesse parar a menina cheia de sonhos.

Marta veio de uma família muito humilde e é a mais nova  dos quatro irmãos, dois meninos e duas meninas. O pai separou-se de sua mãe quando ela tinha apenas um aninho e com isso, seu irmão mais velho teve que trabalhar muito para ajudar no sustento da casa. Nesta época, sua mãe trabalhava como zeladora da Prefeitura da Cidade.

“O que mamãe ganhava não dava nem para comprar os alimentos. Faltava tudo lá em casa. Comer um doce, tomar um refrigerante, essas coisas só eram possíveis quando estávamos na casa de algum parente de melhor situação. Fome nunca passamos. Posso dizer que tive uma infância feliz apesar de todas as dificuldades”, afirma.

E uma das lembranças mais tristes que carrega foi o dia em que uma enchente assolou Dois Riachos e causou grandes estragos em sua casa, que foi praticamente destruída pelas chuvas.

“Deu uma trovoada. E a minha casa, que era um salãozinho, se encheu de água. Ficou uma coisa horrível. Mamãe pegou seus filhos aos prantos por ver a casa cheia e pediu a Deus para dar a ela uma casa novamente. Eu disse a ela que um dia teria uma vida sossegada e que eu ainda compraria uma casa linda para nossa família. Só o fato de eu ter conseguido fazer isso pra minha mãe, dar uma casa pra ela, dar um lar. E ela hoje tá vivendo de uma maneira mais tranquila. E imaginar tudo o que ela já passou na vida dela, é a minha maior conquista”, diz Marta.

 

Início de carreira

 

Com 13 anos sua vida começou a mudar. Seu coordenador, o Marcão, resolveu levá-la para fazer testes em times femininos, no Rio de Janeiro. Foram três dias de viagem e ela ficou encantada com a beleza da Cidade Maravilhosa.

Ele comprou uma chuteira para ela, sem revelar o dia em que faria o teste. E de repente lá foi ela para a sede do Vasco da Gama, onde foi aprovada no primeiro dia e assinou seu contrato.

Em 2003 foi jogar no Santa Cruz, um time mineiro, e lá ficou por duas temporadas, até aceitar a proposta do Umeci IK, da Suécia, e jogar fora do país. Este clube ajudou muito em sua projeção no mercado europeu.

Marta recebe o prêmio de melhor jogadora do mundo pela Fifa em 2009

Extraída da Internet

No ano de 2009, durante cerimônia de premiação aos melhores do mundo, a jogadora anunciou sua transferência para o Los Angeles Sol, dos Estados Unidos. Foi do frio sueco ao calor de Los Angeles. Neste clube foi artilheira da Liga Nacional, levando a equipe ao vice campeonato.

E no dia 1 de agosto de 2009, o Santos anunciou sua contratação, por empréstimo, de três meses. Atualmente joga no FC Rosengárd, na Suécia.

E suas conquistas são inúmeras. Em 2015 tornou-se a maior artilheira da história de todas as Copas do Mundo de Futebol Feminino, com 15 gols. No mesmo ano, sagrou-se a Maior artilheira da história da Seleção Brasileira, incluindo a masculina, com 101 gols. Foi eleita pela Fifa cinco vezes consecutivas a melhor jogadora de futebol do mundo, entre os anos de 2006 e 2010. Foi Bola de Ouro no ano de 2004. Em 2007 ganhou novamente o prêmio junto com a Chuteira de Ouro.

“É a realização de um sonho. Eu trabalhei muito para conquistar cada passo na minha vida, na minha carreira como profissional do futebol. Nada veio por acaso. Ser eleita cinco vezes como a melhor jogadora do mundo me dá muito orgulho e alegria, pois é um feito inédito no esporte. Eu nunca imaginei que fosse ser reconhecida dessa maneira, fazendo o que eu mais amo na vida, e conseguindo atingir todos os meus objetivos pessoais e profissionais. O mais bacana disso tudo é poder influenciar outras meninas que também têm esse sonho no futebol, mas às vezes sofrem tanto preconceito que acabam desistindo pelo caminho”, diz.

Para a atleta, o futebol é uma grande ferramenta para o desenvolvimento social e pode ser usado na transformação da realidade das meninas que acalentam o mesmo sonho que ela: tornar-se uma jogadora profissional.

“O futebol tem um poder gigantesco e saber usar toda essa paixão para criar oportunidades aos jovens é algo muito precioso, que me dá um orgulho enorme de fazer parte disso”, comenta.

Segundo a jogadora, o futebol feminino no Brasil ainda engatinha e passa quase despercebido. Não há o investimento necessário, divulgação, nem apoio para as atletas. Seu sonho é ver homens e mulheres no mesmo patamar.

“Quando fui jogar na Suécia ganhava algo em torno de R$ 3 mil. As pessoas pensam que o contrato das jogadoras que se destacam chega perto do contrato do Neymar. Mas isso é totalmente fora de nossa realidade”, comenta.

Vários aspectos influenciam para que o futebol feminino não seja tão valorizado no Brasil quanto é lá fora. Um deles é o preconceito, que a gente sabe que existe em todos os lugares, mas aqui em nosso país é muito forte e contribui para que cada vez menos meninas se interessem por futebol. A falta de investimento das empresas é outro ponto que precisa ser falado. Aqui no Brasil, gasta-se milhões de reais em patrocínio dos clubes, direitos de televisão e propaganda comercial no futebol masculino, enquanto as mulheres precisam lutar muito para conseguir organizar um simples torneio.

“Tem alguma coisa errada nessa história, a diferença é muito grande, muito explícita. É preciso olhar com carinho para o futebol feminino. Eu tenho certeza que é um ótimo produto para a mídia, empresas e investidores”, pontua.

 

Trabalhos em prol da Ação Social

 

Marta com as crianças do projeto Dando as Mãos

Fonte: Henrique Pereira


 

Por ter tido uma infância pobre, Marta fez questão de usar sua fama para ajudar aos mais necessitados. Por isso, ficou imensamente feliz ao ser nomeada Embaixadora da Boa Vontade, dentro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em outubro de 2010.

Sua missão era a de trabalhar pelo empoderamento da mulher como forma de combater a pobreza. Ao lado do marfinense Didier Drogba e do espanhol Iker Casillas

“Não esqueci minhas origens. Tive a oportunidade de vencer na vida, mas sempre penso naqueles que não tiveram a mesma sorte. Todos nós temos que contribuir para ajudar a combater a pobreza”, disse ela.

Após se sagrar bicampeã da Liga Americana de Futebol Feminino, a atacante iniciou as viagens para levar o programa e escolheu Serra Leoa, um dos países mais pobres do mundo, como ponto de partida. Seu principal objetivo foi ajudar na promoção da autonomia feminina no país.

"Todos temos que contribuir para ajudar a combater a pobreza e estou orgulhosa por estar comprometida com este trabalho", afirmou a brasileira.

Em 2013 foi nomeada madrinha do movimento social Dando as Mãos, que ajuda mais de 500 pessoas, entre crianças, gestantes e idosos que residem no entorno do Vale do Reginaldo, uma das várias comunidades carentes de Maceió. O Movimento Dando as Mãos existe há 20 anos em Maceió, e atua junto a crianças e adultos carentes das áreas do Feitosa, Reginaldo II, Ouro Preto e Aldeia do Índio.

“Me emociono muito com tudo isso. Ao ouvir a história do movimento, eu me vi em muitos destes meninos e meninas. Tive uma infância difícil, mas graças a Deus eu também tive alguém que me estendeu a mão e me ajudou, e só assim pude me tornar a atleta que sou. Então, eu fico muito feliz em fazer parte deste projeto, onde essas crianças são assistidas, apresentadas ao esporte, à cultura, e assim ficam longe da criminalidade, das drogas. Não tinha como dizer não a uma coisa assim”, disse a jogadora.

Extraída da Internet

 

Por todo este comprometimento, dentro e fora dos gramados, Marta merece ser celebrada nesta data especial com muito amor. O blog Mulheres em Campo saúda nossa Rainha!

Fontes: Folha de São Paulo – Revista Trip – ESPN the magazine – Street Football World.


Carla Andrade