Futebol é para quem quer!

 

 

 

“Futebol não é para homem e nem para mulher. Futebol é para quem quer, para quem gosta, para quem acompanha, para quem entende”.

 

 

Não há descrição melhor para se iniciar o assunto do dia por aqui: As mulheres e o futebol.

Porém, infelizmente, se sabe que na prática nem sempre o pensamento é esse. Ainda não é raro ouvir alguns comentários lamentáveis tais como “ah, mas tinha que ser mulher!”, “futebol é sim coisa de homem”, “gosta de futebol? Então o que é escanteio? E impedimento?”. Seria engraçado se não fossem de extremo mau gosto.

E sim, é preciso falar disso. É preciso falar de um pouco de história. Afinal, você sabia que o termo “torcedor” tem muito a ver com as mulheres? Sim amigos, as mulheres já frequentavam os jogos lá no princípio, ainda no século XX. Naquela época, os trajes femininos eram compostos de vestidos e luvas e com o decorrer da partida, muitas tiravam as luvas e as torciam de nervosismo. Eram as torcedoras. A versão masculina do termo veio por consequência.

E falando em história, vamos conversar com quem já vem fazendo parte dela há um tempo. Em especificamente da história com o Coritiba.

 

 

Elas têm muito para contar

 

Quem sabiamente disse a frase de abertura deste texto foi Rosi Dalla, de 66 anos. Todos eles como torcedora do Alviverde Paranaense. Ela vivenciou de perto muito do futebol e do clube do coração, desde um tempo em que as mulheres participavam timidamente das resenhas esportivas.

 

 

Arquivo Pessoal

 

 

“Um tempo atrás a mulher não era bem vista nos estádios, principalmente a torcedora fanática não era vista com bons olhos. Achavam que ela tinha tantas outras coisas para serem feitas em casa ao invés de se apegar ao futebol. Comigo foi diferente, eu me apeguei desde o princípio e sigo até hoje”, conta a coxa-branca.

 

 

A evolução faz parte do mundo. Não apenas no esporte, a mulher vem ganhando espaço e respeito em diversas áreas da sociedade. Na maioria das vezes, porém, por luta e imposição dela própria.

 

 

“O preconceito ainda existe sim. Mas eu que acompanho há tanto tempo digo que nem se compara há anos atrás. A mulher vem se impondo, a presença nas arquibancadas cresce a cada dia mais”, comenta Rosi.

 

 

Arquivo Pessoal

 

 

Os motivos que levam alguém a torcer são inúmeros e particulares, e em geral, ser “coisa de homem ou de mulher” definitivamente não pode ser um deles.

Muitas vezes, as influências são importantes e não é raro ouvir relatos de torcedoras que passaram a acompanhar futebol por influência de um pai, um irmão, um amigo, um namorado. E isso é sinal positivo de que é sim possível que a mentalidade do preconceito seja rompida.

Que tal ao invés do “estou indo no jogo. Faz a janta para quando eu voltar”, se use ao “vamos no estádio? Experimenta, se não gostar tudo bem”.

Foi mais ou menos assim que aconteceu com Lilian Carnieri.

 

 

“Meu marido sempre foi torcedor do Coxa desde pequeno. Eu nunca gostei de futebol, não gostava nem de ver na TV. Mas meu sobrinho na época com 12 anos pediu pra ir ao estádio. Fiquei com medo que meu marido esquecesse o moleque lá. Ele sempre foi desligado, daí resolvi ir junto. Era final da Copa do Brasil, jogo contra o Vasco em 2011. Daquele dia em diante eu nunca mais deixei de torcer pro Coxa e ir para o estádio. O jogo em si foi muito emocionante, o que fez com que eu me apaixonasse pelo clube”, relata.

 

 

O marido de Lilian nunca a desestimulou a seguir como torcedora. Muito pelo contrário. Mas mesmo se impedisse. A luta feminina é justamente pelo direito de se fazer aquilo que se quer sem amarras impostas equivocadamente pela sociedade.

“Às vezes meu marido me dizia: ‘Lilian hoje eu estou cansado!’ e eu respondi: ‘Ah! Então você fica aí que eu vou no jogo’ ”, brinca a Coxa-Branca de 62 anos que aprendeu a viciante arte de torcer apenas mais recentemente.

Lilian diz também que não sofreu nenhum preconceito, mesmo por que, ela não aceitaria ser desrespeitada. Apesar de vários casos de preconceitos com a mulher nos estádios, Lilian é um exemplo de que isso pode deixar de ser clichê, já que conserva várias amizades nas arquibancadas, algo que se tornou ainda mais importante depois da morte de Hamilton, seu marido.

 

 

O amor de ontem, hoje e sempre

 

Rosi tem a vida inteira como torcedora, não titubeia em falar que o Coritiba é tudo em sua vida, uma relação de casamento, com altos, baixos, mas sobretudo, de muito amor. Ela tem seu lugarzinho de sempre no amado Couto Pereira, ao lado de amigos que o Alviverde trouxe com o tempo.

 

 

Arquivo Pessoal

 

 

Já Lilian, sócia há cinco anos, sempre que pode acompanha o Coxa. Na arquibancada, procura sempre ficar perto da torcida organizada para poder empurrar e cantar pelo time o jogo inteiro. Não tem vergonha de vestir a camisa alviverde, seja pra sair, ou ir a uma festa. A roupa mais bonita que tem em seu guarda-roupa é a do Coritiba.

Seu marido, Hamilton, hoje falecido, recebe a homenagem de Lilian que ainda mantém seu sócio (proprietário de cadeira no setor social) em dia. Segundo ela, o amor pelo time nunca acaba, e essa é uma forma dele continuar amando o Coxa, já que, em vida, foi ele quem lhe deu o amor pelo Coxa que perdura até hoje, sem data para acabar.

E aí, alguma dúvida de que o amor não faz distinção de gênero, classe, cor, raça e tudo o mais que teimamos julgar?

Escolhemos duas mulheres com histórias distintas pra contar e inspirar a nós e a vocês, amigos leitores. Hoje, Dia Internacional da Mulher, fica aqui a nossa homenagem a todas, desde a criança até a melhor idade. O preconceito com a mulher na arquibancada vem de décadas, mas temos exemplos de que isso pode mudar. Já dizia aquele ditado: “Lugar de mulher é onde ela quiser”.

Respeitem a mulherada! Elas vão ao estádio para torcer, cantar, apoiar e também xingar o árbitro, porque não? Não é feio ser torcedora, feio é ter preconceito!

 

 

POR QUE A RESENHA TAMBÉM É NOSSA!

 

 

 

Por: Geane Godois e Patricia Moro.