Um clássico para ser sempre lembrado!

 

 

Como todo clássico, é normal as pessoas da cidade se concentrarem apenas nisso, os amantes de futebol, claro. É difícil encontrarmos quem não goste se quer um pouco de futebol. No entanto, para esses que nos olham de fora nos chamam de loucos, dizem que times/clubes não nos trazem dinheiro algum, realmente não traz, mas nos faz ter momentos únicos e que jamais serão esquecidos.

Sou torcedora do Paysandu em incentivo ao meu avô, o Seu Manoel, grande homem. Meus pais, João e Átila, torcem para o lado escuro da cor azul (o que seria de um clássico sem uma zoação?!), nunca me forçaram a nada, mesmo que meu avô me levasse ao estádio desde pequena para conhecer jogadores, tirar fotos e fotos, andar no gramado, participar de muitas outras coisas dentro do clube o qual o meu avô tanto ama. O tempo foi passando e eu cresci sempre com a certeza que meu amor pelo Paysandu era verdadeiro e que não haviam motivos para que tivesse dúvidas.

Com tanta violência eram raros os jogos que ia com meu avô, mas acompanhava tudo de pertinho. No início de 2015 tive o prazer de iniciar a temporada assistindo um jogo ao lado desse grande homem, que me mostrou que o futebol não é apenas 11 homens defendendo os seus respectivos clubes, vai muito além. Mas, meu sonho ainda não era esse, meu sonho era acompanhar um clássico de pertinho e fui sem medo. 2015 definitivamente não foi o nosso ano, mas esse jogo mudou no ano seguinte.

A temporada de 2016 começou e as torcidas ficaram afoitas para saber as datas dos jogos, principalmente do clássico.  Os dias foram passando e a datas dos jogos já estavam definidas. As torcidas estavam ansiosas e preparando-se para fazer a festa como sempre acontece em todo clássico. ‘Esse ano vai ser nosso’ - pensei e confiei até o fim.

O Campeonato Paraense começou, fomos com tudo e passamos para a final onde enfrentaríamos o nosso rival, Clube do Remo para decidirmos quem ficaria com a Taça Cidade de Belém pelo 1° turno. Deu Papão! Com 1 a 1 no tempo normal e 4 a 1 nos pênaltis. O segundo turno começou e mais confrontos vieram. Mais uma vez deu clássico na final, com vitória do Paysandu tornando-se o Campeão Paraense pela 47° vez.

 

 

  

Foto: internet

 

 

Foram várias partidas até que o primeiro jogo da semi-final foi definido. Eu já imaginava o que eu faria pra ir ao jogo, pois estava sem dinheiro e não via outras soluções para conseguir estar presente. Já estava bastante triste e cabisbaixa por achar que não poderia ir ao estádio para apoiar o time que tanto amo. Me esforcei ao máximo para conseguir apenas o ingresso. E consegui. Muito em cima da hora, mas não me arrependo. O primeiro jogo aconteceu, o Paysandu era o mandante de campo, em uma tarde de domingo (20/04/2016), um belo dia para se reunir com os amigos antes do jogo e mal sabíamos o que estava por vir! Eu e meus amigos subimos a rampa com a cabeça erguida, e eu com a confiança de que venceríamos. E vencemos, no entanto, era preciso lembrar que ainda restavam 90 minutos. O segundo jogo era três dias depois. 23 de abril de 2016. Foram três dias sem comer, beber ou dormir direito, pode até parecer loucura demais, mas não conseguia fazer nada, só pensando nesse dia.

Chegou o grande dia, deu a hora para partir rumo ao nosso grandioso Colosso do Bengola, assim popularmente chamado o Estádio Olímpico do Mangueirão. Quanto mais chegávamos perto, mais a hora parecia demorar a passar e o nervosismo falava cada vez mais alto. Subi a rampa cantando músicas de incentivo ao Paysandu, ouvia a torcida gritar, cantar e vibrar sem mesmo o jogo ter iniciado. Então, chegou a hora, hino paraense e o brasileiro tocados e cantados pelas torcidas que fizeram ecoar por todo espaço. Eu parecia não estar ali por quão nervosa eu estava.

O jogo foi bastante tenso desde o início, boas jogadas por ambos os lados, mas em uma falta de Alisson dentro da área em cima de Celsinho, o juiz marcou pênalti e Betinho foi cobrar abrindo o placar. O atleta bateu forte na bola, jogando para o canto esquerdo do gol de Fernando Henrique. A emoção já começou neste primeiro gol, eu confiei e acreditei mais ainda que era possível, pois éramos melhores e estávamos confiantes dentro de campo. O jogo seguiu e as boas jogadas pelo Paysandu eram feitas, mas nada de outros gols. No entanto, no final do primeiro tempo, aos 50 minutos, os azulinos empataram com gol de Silvio, e foi ai que meu desespero bateu, aquela angústia, indignação de que aquilo não podia terminar assim. Mas, ainda havia tempo.

Nada importava e com esse empate meu humor mudou, não podia ser possível perdermos novamente! O segundo tempo começou e a cada lance de perigo meu coração parecia parar de bater por milésimos de segundos, o ar faltava e o calor aumentava. Eram passes errados, juntos de algumas jogadas de contra-ataque. Em um cruzamento de Celsinho, Rodrigo Andrade dominou e chutou para o gol, marcando o segundo do Paysandu na partida. A torcida foi à loucura, porque ganhar é muito bom, mas ganhar em cima do seu maior rival não tem preço! A arquibancada pulsava e nada mais importava, apenas a acreditar que o nosso Paysandu continuava sendo o time do impossível. Ciro chegou a encostar no placar, dominando a bola que recebeu num cruzamento na direita. Mas aos 33 minutos, numa disputa de bola, Leandro Cearense conseguiu dominar e arrancar do meio de campo, dando um passe rasteiro para Raí que se esticou ao máximo para fazer o terceiro para os bicolores.

 

 

Foto: Assessoria de Comunicação do Clube

 

 

Mesmo que o jogo ainda não tivesse terminado, eu não podia conter as minhas lágrimas, lágrimas de felicidade, de alívio, de amor e sim um gosto de vitória em cima dos rivais. E eu dizia: a vaga é nossa!

Eu não esperava mais, só queria que aquilo acabasse para poder comemorar e tirar um peso cheio de nervosismo, ansiedade e noite mal dormida. Para minha surpresa, Rai no contra-ataque com direito a pedalada, colocou na gaveta marcando o quarto para acabar de vez com o jogo.

 

 

   

Foto: Esporte Interativo

 

 

O juíz não deu acréscimos e finalizou a partida logo após o gol de Raí. Eu só conseguia levantar as mãos para o céu e agradecer por tudo ter dado certo, por eu estar ali e pelo meu amor ter ganho esse jogo. Tudo saiu como planejado e eu sai feliz e com lágrimas escorrendo, mas foram de felicidade e de alívio, valeu a pena cada minuto, cada centavo gasto, cada canto e incentivo. Foi como o narrador esportivo, André Henning disse: “Eu te vejo na final, Papão”. E eu vi, mostramos ser maior, superior dentro de campo, calamos a ‘parte A’ do estádio, a festa era nossa. Mais um jogo à ir para a lista dos Jogos Inesquecíveis do grandioso Paysandu Sport Club.



 

Bruna Karolina Moraes Senna