UM HISTÓRICO QUE NÃO DEVERIA FAZER PARTE DO GRENAL

Neste domingo (24), outra vez o Rio Grande do Sul parou para assistir um dos maiores ou quiçá o maior clássico brasileiro, era dia de Gre-Nal, dia de ver os dois maiores clubes do estado frente a frente outra vez.


Foto: Ricardo Duarte


Um domingo de calor e sol em pleno janeiro, um greNAL que poderia estar abrindo o Gauchão, mas que como resultado de um ano atípico como 2020, ainda se valia das rodadas finais do Brasileirão, um greNAL com muita coisa em jogo.

De um lado um time com uma invencibilidade de 11 clássicos sem perder debaixo do braço, com grandes conquistas recentes, do outro um clube em franco crescimento na competição, recuperando a união do grupo e há 7 rodadas sem o dissabor de uma derrota.

Para um lado, se colocar como postulante ao título talvez, mas principalmente jogar água na Polar do rival, do outro lado um desafio gigante, de vencer a si mesmo e se colocar oficialmente como um grande candidato ao título.

Nas outras partidas da rodada, tudo contribuiu para que o melhor futebol fosse jogado ali, para que a disputa mais importante fosse aquela.

E foi, foi lindo!

O greNAL não poderia ser mais greNAL, com emoções à flor da pele, com o resultado saindo nos acréscimos, com virada após os 40 minutos do segundo tempo o Inter dissolveu o sabor amargo de tropeços no passado e ganhou dos últimos greNAIS o que era mais importante, o que faria mais diferença.

Fora de campo, no entanto, outra vez um histórico amargo como todas as derrotas da história se fez presente, se fez presente com força, com ódio, com vivacidade.

O racismo gritou, bateu, espancou!

O histórico de uma parte da torcida que apequena o próprio clube, que põe o próprio clube a mercê da bestialidade, desclassifica o próprio clube de competições nacionais aos gritos de "MACACO", outra vez ele marcou presença! 

"Primeiro leva gol de cabeça idiota de um preto depois vem outro preto maldito e faz outro toma no cu como bônus tinha esse juiz preto vsf." Dizia um dos tuítes com mais de 200 retweets.


Nem de longe era só uma voz que gritava e vociferava contra a cor da pele de Abel Hernandez, Edenilson e do árbitro da partida Luiz Flávio de Oliveira, em poucos minutos multiplicaram se os conhecidos "casos isolados", dezenas de postagens que foram sendo apagadas por seus autores foram aparecendo.

Dos gritos, das mensagens de injúria racial respingaram também em quem não está mais nem aqui, os gritos de MACACO outrora se voltaram a duas tragédias, a perda do filho de Abel Braga também foi citada com êxtase entrelaçada as lembranças da queda do helicóptero que vitimou Fernandão.

Uma história que não deveria fazer parte da vida de dois clubes gigantes e que mesmo que eu fale do lado Colorado do enredo, é com tristeza que escrevo sobre algo que já teve milhares de chances de ser deixado para trás e outra vez se sobrepõe a ser personagem principal do que deveria ser só futebol. 


Quando a imbecilidade se sobrepõe à humanidade, não há rivalidade que resista ou faça ter sentido aquele que ultrapassou qualquer  linha do justificável.



Por Jéssica Salini - Colunista do Internacional no Portal Mulheres em Campo



*Esclarecemos que os textos trazidos nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Mulheres em Campo.